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Cristiano Nabuco

Um cérebro afetado pelas telas digitais

Uma pesquisa[1] revelou que partes importantes do nosso cérebro como, por exemplo, o córtex pré-frontal dorsolateral e o córtex cingulado anterior dorsal também podem ser afetados pelo uso sistemático das telas digitais.


Para que possamos entender um pouco melhor, vamos pensar no córtex pré-frontal dorsolateral como um “chefe” que toma decisões e no córtex cingulado anterior dorsal como um “conselheiro emocional”, ajudando o chefe a gerenciar as situações emocionais. Assim, quando usamos um smartphone de forma excessiva, as áreas citadas acima ficaram menos ativas, prejudicando a capacidade de o usuário planejar, organizar e controlar os impulsos, além de dificultar a regulação das emoções, tão necessária para o manejo das situações de nosso cotidiano.

 

Desta forma, como a desativação destas áreas causadas pelo uso excessivo, as pessoas apresentaram mais dificuldade em tomar decisões racionais e controlar seus impulsos, levando-os a maiores níveis de impulsividade, o que perpetua, assim, o uso desregulado das telas.


Um cérebro afetado pelas telas digitais

 

Assim sendo, pensando no exemplo anterior do “chefe”, é como se ele estivesse de férias e ninguém estivesse no comando das decisões importantes. Além disso, tal desregulação também prejudicou o gerenciamento das emoções, isto é, é como se também, agora, o “conselheiro emocional” falhasse, por distração, em suas atividades, acarretando reações emocionais mais intensas e exageradas (leia-se: é como se tudo virasse uma “grande bagunça” com o “chefe” e “conselheiro” não mais realizando suas funções da forma esperada.

 

Portanto, as mudanças ocorridas nos circuitos cerebrais explicam porque pessoas que usam os celulares de maneira compulsiva, tendem a ser mais impulsivas e ter maiores problemas emocionais, como ansiedade e depressão. Por começarem a “perder o controle”, verificando seu aparelho constantemente (inclusive em momentos inoportunos), passam a ter maior dificuldade, igualmente, nas interações sociais por não conseguirem, mais adequadamente, interpretar as emoções dos outros a sua volta, afetando, inevitavelmente, a sua saúde mental.

 

Uma outra pesquisa[2] a respeito, finalmente, mostrou que usuários problemáticos de celulares apresentaram alguns problemas na substância cinzenta do córtex orbitofrontal lateral direito (área crucial para o controle emocional e a tomada de decisões). Assim, por exemplo, imagine que nosso cérebro é como se fosse uma grande orquestra e onde diferentes áreas trabalham junto para criar uma sinfonia harmoniosa de “pensamentos e ações”. A investigação em questão revelou que quando uma pessoa se torna viciada em celulares, certas partes dessa orquestra, especialmente o "maestro" na frente (o córtex pré-frontal) e alguns "instrumentistas" nas laterais (o córtex temporal), começam a tocar de forma mais fraca e descompassada, se comparado aos outros membros do grupo de músicos. Isso significa então que essas regiões críticas do cérebro, em decorrência do uso excessivo, começam a não funcionar mais tão bem como deveriam, criando um cérebro afetado pelas telas digitais.


Vamos lembrar que essas regiões são também responsáveis por funções importantes, como a manifestação de nossa criatividade, tomada de decisões e capacidade de se adaptar a novas situações. Assim sendo, quando o "maestro" não está conduzindo bem e os "instrumentistas" não tocam de forma esperada, a pessoa (o usuário das telas digitais) pode ter dificuldade em pensar de maneira criativa, pois está se sentido confuso e desorientado.

 

Além disso, essa falta de harmonia no cérebro pode levar a uma dificuldade maior em fazer associações novas e gerar ideias originais. A criatividade fica prejudicada, como um pintor que só consegue usar algumas cores e não consegue misturar novas tonalidades para criar obras inovadoras. Compreender esses impactos ajuda a perceber como o uso excessivo de smartphones pode limitar nossa capacidade de pensar de forma inovadora e resolver problemas de maneira eficiente. A pesquisa reflete diretamente essa situação, sugerindo que as mudanças estruturais no cérebro, devido ao uso excessivo de smartphones, afetam nossa capacidade de pensar de forma criativa e eficiente.



Referências Bibliográficas


[1] Li X., Li Y., Wang X., and Hu W., Reduced brain activity and functional connectivity during creative idea generation in individuals with smartphone addiction, Social Cognitive and Affective Neuroscience. (2023) 18, no. 1, https://doi.org/10.1093/scan/nsac052 

[2] Chun J.-W., Choi J., Kim J.-Y., Cho H., Ahn K.-J., Nam J.-H., Choi J.-S., and Kim D.-J., Altered brain activity and the effect of personality traits in excessive smartphone use during facial emotion processing, Scientific Reports. (2017) 7, no. 1, https://doi.org/10.1038/s41598-017-08824-y, 2-s2.0-85029759716, 28939856.34

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